top of page
  • Facebook
  • Instagram

SUICÍDIO

1599048094_134ce63057f068a219a0df338fb0b723.87583.jpeg

 

O termo “suicídio” significa “morte de si mesmo”, incluindo atos e comportamentos que normalmente não são associados a suicídios.

 

No início do século XXI, os países com as maiores taxas de suicídio eram os da Europa Ocidental (Rússia, Bulgária, Lituânia, Ucrânia, Estônia, Hungria, Áustria), com mais de 25 suicídios a cada 100 mil habitantes por ano. Com maiores taxas são em países como Cazaquistão, Nepal, Tanzânia, Moçambique, Sri Lanka, as duas Coreias, Zimbábue Guiana com taxas anuais de 25 a 45 suicídios a cada 100 mil habitantes. Taxas consideradas médias (de 10 a 20 suicídios a cada 100 mil habitantes) são encontradas em: Canadá, Hong Kong, Dinamarca, Alemanha, Estados Unidos, Uruguai, Chile, Cuba, Finlândia e França. Taxa baixas, isto é, com menos de dez suicídios a cada 100 mil habitantes, são encontradas nos países europeus mediterrâneos, como Portugal, Espanha, Itália, Grécia e Chipre além de Reino Unido, Israel, Holanda, Nova Zelândia e a maioria dos países da América Latina, como Colômbia, Venezuela, Peru e Paraguai.

 

O Brasil pertence aos países com taxas baixas – em torno de seis suicídios a cada 100 mil habitantes por ano. A distribuição geográfica mostra maiores taxas nos estados do Sul, talvez motivadas por fatores culturais frutos da maior quantidade, nessa região, de migrantes provindos da Europa Central. As maiores taxas de suicídio se encontram entre pessoas mais velhas, mas o número de jovens suicidas vem aumentando progressivamente, quanto ao sexo, são mais comuns entre homens, numa proporção de dois a três homens para cada mulher, mas há uma tendência de aumento no número de mulheres, principalmente jovens. No Brasil o suicídio constitui a terceira maior causa de morte entre jovens, os mais atingidos são jovens pobres e negros. Os índices de suicídio têm aumentado, com atenção maior a população idosa. Dados do Ministério da Saúde, divulgados em 2018, apontam para a alta taxa de suicídio entre aqueles com mais de 70 anos. Nessa faixa etária, foi registrada a taxa média de 8,9 mortes por 100 mil nos últimos seis anos. A taxa média nacional é 5,5 por 100 mil. Durante a pandemia da COVID-19, a necessidade de adoção de estratégias de isolamento e distanciamento social podem ser emocionalmente desafiadoras para esta população. Ainda no Brasil, 51% dos casos de suicídio acontecem dentro de casa. Estima-se que apenas um em cada três casos de tentativa de suicídio chegue aos serviços de saúde. Ao contrario da população que comete suicídio, em que predominam homens em idades mais avançadas, a população que tenta suicídio e não morre é predominantemente jovem – 75% são adolescentes e adultos jovens – e feminina – de duas a três mulheres para cada homem. Diferentemente dos casos de suicídio, o método predominante nas tentativas é a ingestão de substancias químicas, como medicamentos e produtos de limpeza.

 

Estudos epidemiológicos mostram que as zonas das cidades com maior índice de suicídios são aquelas de transição, de maior desorganização social, pensões e hotéis, e onde há as maiores taxas de alcoolismo, toxicomania, delinquência e mobilidade populacional.

 

Quanto ao estado civil, as estatísticas mostram que pessoas casadas adultas tem menor probabilidade de se suicidar. Em solteiros viúvos e separados, a chance aumenta. Já entre os jovens, adolescentes casados tendem mais ao suicídio que os solteiros. Em muitos casos, esses casamentos eram efetuados após uma gravidez indesejada; o casal era imaturo e estava despreparado para a responsabilidade. Outras vezes, a união era uma tentativa de encontrar apoio para suprir necessidades inconscientes e conflitivas.

 

A interação entre fatores internos e externos no individuo esta sempre presente no suicídio, portanto as pessoas podem se matar ou procurar a morte de forma consciente ou inconsciente. Na psicologia, mais especificamente na psicanálise, são estudadas as interações entre nosso consciente (ego), nosso inconsciente (id) e nosso superego (instância controladora).

 

A mente do suicida é como a mente de qualquer pessoa, com a pequena diferença de que alguns mecanismos se tornaram mais intensos ou passaram a interagir entre si de tal forma que causam um sofrimento que pode ser sentido como insuportável. A pessoa que pensa em suicídio ou tenta se matar está evidentemente sofrendo. Quando ela não encontra formas de diminuir ou compreender esse sofrimento, que se torna insuportável, o suicídio parece ser a única saída e entendemos que as ideias suicidas e as tentativas de morte são, sempre, formas de pedir ajuda. Portanto, as pessoas podem se matar ou procurar a morte de forma consciente e inconsciente.

 

Os seres humanos possuem impulsos nomeados pulsões de vida e pulsões de morte. As primeiras levam a crescimento, desenvolvimento, reprodução, ampliação da capacidade de pensar, sentir e viver. Já as pulsões de morte lutam pelo retorno a um estado de inércia, atacando a capacidade da pessoa de lidar com as adversidades e de viver e desvitalizando as suas relações consigo mesma e com o mundo. Do ponto de vista individual, as pulsões de morte sempre vencem, pois todos os seres vivos morrem. Do ponto de vista coletivo, a vida continua, por meio de nossos descendentes.

 

A vida, nas suas várias fases de desenvolvimento e involução até a morte, é resultado da interação entre essas duas pulsões. Mesmo as pulsões de morte auxiliam a vida, pois delas derivam forças que se manifestam por meio de uma agressividade que, quando adequada (influenciada pelas pulsões de vida), volta-se para aspectos do mundo externo, permitindo que a pessoa se defenda da hostilidade do meio em que vive. Além disso, contribui para a conquista dos recursos necessários para a sua sobrevivência, como alimento e sexo. É como se a pulsão de morte defendesse a pessoa da morte por causas externas, obrigando-a a morrer de causas naturais, no tempo certo. No entanto, se fatores individuais ou psicossociais aumentarem a força das pulsões de morte, mecanismos autodestrutivos, que poderão acelerar a morte, passam a se manifestar. A morte deixa de ser natural para ser precedida por doenças, acidentes ou atos de autoextermínio, conscientes ou inconscientes.

 

Mas o que é a morte para o suicida? Será possível saber o que é a morte? O que realmente se quer quando se procura a morte? Independentemente de fatores religiosos, as pessoas inconscientemente combatem os terrores internos com fantasias de imortalidade, de vida após a morte. Por isso mesmo, o suicida não procura a morte (porque não sabe o que é a morte), mas está em busca de outra vida, fantasiada em sua mente. Essas fantasias comumente se encontram em camadas inconscientes do funcionamento mental. A pessoa que se mata não quer necessariamente morrer, pois nem sabe o que seria isso. Ela se mata porque deseja outra forma de vida, porem, está em sua mente. Nela, a pessoa encontra amor ou proteção. Vinga-se dos inimigos, pune-se por seus pecados ou reencontra pessoas queridas.

 

Vemos então que o individuo que quer morrer deseja também viver. Parte da pessoa quer deixar de existir e outra parte deseja continuar viva. Essa ambivalência faz parte do conflito, tanto de forma consciente quanto – e principalmente – inconsciente.

 

Também é necessário e importante à diferenciação entre a tentativa de suicídio e o suicídio propriamente dito, quando a pessoa tenta se matar, quanto de intenção de morrer existe? Os suicidas que morrem geralmente usam métodos mais violentos, a intensidade e a gravidade de seus conflitos são maiores, eles são mais isolados e tem dificuldades em fazer contatos sociais, verifica-se que os suicidas geralmente se isolam de modo a não serem descobertos. Já as pessoas que tentam suicídio e não morrem tem mais facilidade em se relacionar com os outros, e o ato suicida muitas vezes pode ser entendido como uma forma de comunicação com o ambiente, como um pedido de ajuda, geralmente fazendo o ato impulsivamente, sem muito preparo. As fantasias das pessoas que tentam suicídio e não morrem não devem ser muito diferentes daquelas que de fato cometem o suicídio, mas há indícios de que, no primeiro caso, a cobrança e a agressão ao ambiente estão mais conscientes.

 

Em todos os casos, o indivíduo está em conflito: deseja morrer e viver ao mesmo tempo, e a intensidade desse desejo dependerá não só da pessoa, mas do momento. Quanto maior a intencionalidade de morrer, maior a intensidade letal do método usado ou das precauções tomadas contra a descoberta. No entanto, pessoas com baixa intencionalidade podem usar métodos altamente perigosos, às vezes por desinformação.

 

Em suma: a maneira como o indivíduo tenta se matar ou as precauções que toma para não ser (ou ser) socorrido nem sempre tem relação com a intensidade do desejo de morrer. E, mesmo que o desejo de morrer não seja acentuado, o ato suicida é uma mensagem, um pedido que o indivíduo faz à família e à sociedade, para que seja ajudado. A maioria das pessoas que se mata ou tenta se matar comunica esse desejo, de alguma forma, a seu ambiente, que raramente se percebe e às vezes um pedido tem características agressivas e, por isso, pode não ser atendido.

 

Devido à pandemia pelo novo COVID-19 associado ao isolamento, as incertezas, ao medo de perder entes queridos e a recessão econômica podem tornar vulneráveis crianças, adolescentes e suas famílias. Este cenário tende a suscitar ou agravar o sofrimento e consequentemente os problemas de saúde mental, em especial a depressão e ansiedade, aumentando o risco do comportamento suicida.

 

Cabe lembrar que o suicídio é um fenômeno complexo e multifatorial e o possível aumento no seu número de casos, em uma situação de pandemia, pode estar relacionado a diferentes fatores como: medo, isolamento, solidão, desesperança, acesso reduzido a suporte comunitário e religioso/espiritual, dificuldade de acesso ao tratamento em saúde mental, doenças e problemas de saúde, suicídios de familiares, conhecidos ou profissionais de saúde. Estressores financeiros e outros precipitadores de suicídio, como aumento do uso de álcool e outras drogas e violência doméstica, também tendem a se elevar neste momento de pandemia.

 

Em contextos de pandemias, é esperado que ocorra um agravamento dos fatores de risco devido ao medo da infecção própria ou de entes queridos. Os adultos, sendo a parcela geralmente responsável pela renda familiar, podem se sentir pressionados devido às tendências de desemprego, a manterem sua dinâmica laboral, rompendo as normativas de isolamento social e, consequentemente, colocando-se em situação de risco para a infecção. Em decorrência dessa conjuntura e do possível contexto de forte pressão pelo qual podem passar os adultos economicamente responsáveis pelas famílias, é necessário observar mudanças de comportamento, pois os mesmos podem ser sinais de alerta. Já em alguns idosos podem expressar dificuldades ao vivenciar situações de desamparo frente às situações de instabilidade dos vínculos afetivos, econômicos e/ ou políticos, desencadeando angústia, tristeza profunda e solidão. Para aqueles que residem sozinhos, a vulnerabilidade emocional pode ser maior, podendo evoluir para estados depressivos ou mesmo depressão, cujo desfecho pode ser a ideação suicida, a tentativa de suicídio ou o suicídio propriamente dito.

 

Os transtornos mentais mais comumente associados ao comportamento suicida são: depressão, transtorno de humor bipolar, dependência de álcool e de outras drogas psicoativas, esquizofrenia e certos transtornos de personalidade.

 

A maioria dos suicídios em pessoas com transtornos mentais intensos ocorre em depressões graves, ou melancolia, e quando o indivíduo esta diante da ameaça de desintegração psicótica. A psicose, ou desintegração psicótica, é um quadro de difícil descrição, pois como a morte, só pode ser conhecida por quem a vivenciou e, na maioria das vezes sem ter muita consciência deles. Na ameaça constante de desintegração, o indivíduo perde as referências, não sabe mais diferenciar o que é mundo interno do que é realidade externa, fica confuso em relação a quem é e se sente aterrorizado, como que em vias de aniquilamento. Sua ansiedade é terrível e ele só pode combate-la criando um mundo irreal, que, embora seja criação sua, é melhor que nada e é nesse momento que surgem os delírios e alucinações. Contudo, quando há ameaça de desintegração, o sofrimento é tão intenso que o suicídio passa a ser fuga, às vezes a única visível.

 

Em quadros psicóticos, o indivíduo sente-se perseguido por inimigos internos que projeta no meio externo. Essa perseguição, em que ele ouve vozes e se sente ameaçado por fatos imaginários, somada à ameaça de desintegração, pode levar a atos autodestrutivos para escapar dos inimigos e do sofrimento. Em muitos pacientes desse tipo, a doença mental subjacente é chamada esquizofrenia.

 

Outros pacientes vivenciam sintomas depressivos. Aqui devemos lembrar que tristeza é a reação normal diante de uma perda. Podemos perder um ente querido que faleceu; podemos perder um amigo que se mudou para longe ou nos decepcionou; podemos perder um emprego ou uma oportunidade. A perda pode ser de um bem, de um encontro, de um amor ou de algo que não tínhamos, mas que desejávamos e agora sabemos que será impossível obter. Inicialmente, nossa mente investe o bem ou pessoa querido de importância, constituindo uma ligação emocional com ele. Quando ocorre a perda, principalmente se for brusca, essa ligação ou esse investimento tem de se desfazer, o que trará sofrimento ao indivíduo, que não sabe o que fazer com essa energia livre. É como se, por muito tempo, vivêssemos num mundo constituído de determinada forma e de repente ele mudasse, deixando-nos desorientados. Ou, em outra analogia, é como se “caminhássemos” emocionalmente contando com determinadas estruturas, e uma delas, mais ou menos importante, faltasse. O resultado será um desequilíbrio, uma ameaça de queda, até que possamos nos reequilibrar com as estruturas restantes, readaptá-las em seu funcionamento e/ou encontrar outras que substituam à perdida, de modo que, logo após a perda, o melhor é ficar parado para não cair.

 

Após a perda, ela precisa de algum tempo para poder se acostumar, readaptar-se. Nesse período, ocorre o que chamamos processo de luto. O bem ou a pessoa perdida, que já não existe na realidade, toma conta da mente do indivíduo. É como se relutássemos em admitir a perda, ou como se a mente fosse forçada a reter dentro de si aquilo que foi perdido. Ele é tratado dentro de nossa mente como se ainda, em parte, existisse. Aos poucos, porém (e só o tempo cura o luto), essas imagens e pensamentos vão se esvaindo, e o indivíduo – antes triste, arredio, voltado para dentro de si – passa, lentamente a se interessar pelo mundo e após algumas semanas ou meses retoma a sua vida normal.

 

Quando esses sintomas se prolongam, tornam-no mais intenso ou sofrido, ou, em casos extremos, levam a quadros doentios, como depressão severa ou melancolia, e o sintoma mais comum nesses casos é a culpa. A culpa inconsciente (por não ser real) decorrente do sentimento de responsabilidade pela morte de alguém (real) pode levar à necessidade de autopunição e essa necessidade de punição de castigo, pode conduzir a ideias suicidas. Essa experiência pode ser muito intensa, ameaçadora, impedindo que o indivíduo siga sua vida por se sentir “mau”, com ódio e com muita culpa. Assim a ideia de suicídio pode surgir como uma maneira de se livrar desses sentimentos, de matar essa culpa dentro de si. Nesses casos existe uma fantasia de que, em outro lugar, em outro mundo, reencontraremos as pessoas mortas, queridas, e ali viveremos felizes. Essa fantasia se confunde com a de encontro ou reencontro com Deus, a de entrada no paraíso, a de retorno ao seio ou útero materno.

 

Já o quadro clínico de depressão severa com aspectos persecutórios não é acompanhado de uma perda real, visível ao observador. Trata-se quase sempre de perdas da infância precoce, revividas inconscientemente a partir ou não de um desencadeante externo.

 

No homicídio precipitado pela vitima, a vitima não efetua diretamente o ato suicida, mas estimula alguém a matá-la. A pessoa se coloca em situações de risco, frequentando locais perigosos ou desafiando pessoas agressivas, é claro que não podemos generalizar essas situações. Nessas situações, podemos identificar vários tipos de vítimas: a) jovens com componentes melancólicos; b) jovens com características impulsivas, com dificuldade de pensar, que deslocam seus conflitos para a área social; c) jovens que, durante a época da resolução de seus conflitos, próprios da adolescência, são vitimizados pelas sociedade e vivem em locais violentos, sem oportunidades.

 

A sexualidade muitas vezes é vivenciada de forma bastante conflitiva, principalmente na criança e no adolescente, e é possível que esses conflitos permaneçam na vida adulta. As sociedades sempre souberam como reprimir suas juventudes.

 

O sexo, por aspectos psicológicos e sociais, é comumente visto como algo mau, que deve ser controlado e reprimido. A culpa pela sexualidade está muito ligada a fatores resultantes das vicissitudes do desenvolvimento psicológico do ser humano. Quando os impulsos sexuais são sentidos como perigosos, consciente ou inconscientemente, a mente usa certos mecanismos para lidar com eles, mais ou menos adequados.

 

Um adolescente que não elaborou adequadamente seus conflitos infantis poderá sentir uma necessidade premente de autopunição e castigo, por suas fantasias sexuais. Fantasias ou desejos sexuais em relação a pessoas proibidas podem surgir em sonhos ou na vigília, exacerbando o sentimento de culpa. Um adolescente normal ultrapassa essas etapas com certa facilidade, mas há os que poderão cair no ascetismo – isto é, na fuga de qualquer prazer -, o que implica um suicídio parcial, ou no suicídio propriamente dito. Em alguns casos, encontramos a mutilação genital ou de órgãos com valor simbólico similar. Pensamentos e tentativas suicidas podem decorrer da vontade de eliminar as fantasias e os desejos sexuais sentidos como insuportáveis. O corpo, por trazer tanto prazer e culpa, terá de ser destruído.

 

No entanto, fantasias sexuais e agressivas são similares em todos os indivíduos, ainda que de forma inconsciente. Essa exacerbação sexual pode ser sentida com mais culpa por homossexuais, principalmente quando a própria sociedade manifesta aversão à homossexualidade. Felizmente, isso tende a mudar, de modo que o homossexual possa se ver – e ser visto pela sociedade – como um ser humano como qualquer outro. Devemos lembrar que ninguém opta por ser homo, bi ou heterossexual. A sexualidade é algo que vem de dentro, e a pessoa tem de aprender a conviver com seus impulsos que ela não escolheu.

 

Não devemos nos esquecer, também, que o jovem que está entrando em contato com a sua sexualidade se defronta com diversas fantasias sexuais, incluindo homossexuais, e que isso faz parte das vicissitudes da busca pela própria identidade, a qual será definida apenas com o tempo. Mas independentemente da orientação sexual, se uma pessoa sente que sua sexualidade é muito incômoda, ela deve buscar ajuda profissional.

 

Além da adolescência, nos períodos de menopausa e da andropausa, os conflitos sexuais podem exacerbar-se. Embora em algumas mulheres possa ocorrer um aumento do desejo, a decadência das funções sexuais pode contribuir para processos melancólicos. Alterações hormonais são fatores coadjuvantes, mas, na maioria dos casos, deles ocorre uma série de desencadeantes psicológicos como o sentimento de fim da feminilidade, de que não se é mais mulher porque se perdeu a capacidade de reprodução, elas passam a se sentir não atraentes e perdem o ânimo de viver.

 

Outros fatores coadjuvantes se relacionam ao fato de os filhos estarem crescidos e abandonando o lar. Essas situações são sofridas principalmente para mulheres cujo único objetivo na vida foi cuidar dos filhos, de modo que um vazio existencial se impõe. É como se ela, inconscientemente, matasse todos seus filhos em potencial e sua feminilidade.

 

Se a mulher vivenciou, em sua historia passada, outras perdas que a predispuseram à melancolia, a probabilidade de esse quadro psicológico se manifestar é maior. Muitas vezes, não é a decadência da sexualidade que contribui para a depressão, mas é a depressão que dificulta a sexualidade.

 

Outro bom exemplo da interação entre fatores sociais e individuais se dá nos chamados suicídio por “fracasso”. Viver em uma sociedade narcísica como a nossa, que valoriza o sucesso, é um fator importante para esses comportamentos.

 

Quando se trata de pessoa de estratos sociais mais pobres, os fracassos reais, cuja responsabilidade é da sociedade – como o desemprego, as dificuldades financeiras, a falta de perspectivas -, levam à desesperança, que se acentuará no indivíduo. Quando se trata de pessoas de estratos mais ricos, é muito provável que a competição desenfreada, a necessidade de status e poder, o estímulo ao consumismo etc. façam com que elas passem a viver numa roda-viva, em que querem cada vez mais e, ao mesmo tempo, se martirizam por se compararem às outras.

 

Dentre desses padrões culturais, o indivíduo deve ter o que se chama “coluna flexível”: ser capaz de aceitar humilhações, subornar, ceder interesseiramente, corromper e ser corrompido, trair um eventual amigo, ser desonesto e lidar à vontade com falcatruas, conforme seus interesses momentâneos. Nessa “selva”, algumas pessoas com “colunas pouco flexíveis” e grande sensibilidade ao fracasso, vivido com vergonha e desesperança, tenderão a fracassar, são indivíduos rígidos e ao mesmo tempo ambiciosos, sendo inábeis em mudar de metas e papéis.

 

Diante de fracassos, reais ou imaginários, essas pessoas entram em depressão, um quadro que pode ser denominado depressão narcísica. Em geral, elas não têm consciência de seu estado e, por isso, raramente procuram ajuda profissional.

 

Alguns indivíduos quando atingem o auge, entram em depressão, a “depressão do sucesso”, porque, não havendo mais nada para se conseguir, sobra o tédio, a monotonia, a tristeza. Outros entram em decadência, porque não conseguem mais acompanhar as rápidas mudanças, por sua idade, ou porque passam a enfrentar novos competidores, jovens e vigorosos, de modo que acabam com depressão por fracasso. Se o fracasso dor sentido como humilhante, insuportável, o suicídio pode parecer uma saída.

 

Esses indivíduos muitas vezes apresentam laços familiares e afetivos muito frágeis, depositando todas suas energias principalmente para suas ambições e seus trabalhos. Assim que fracassam, se percebem sozinhos.

 

A prevenção ao suicídio implica todo tipo de ação que proporcione melhores condições de vida ao ser humano, com dignidade, oportunidades e recursos para desfrutá-la. Inclui-se aí o direito a alimentação, moradia, educação, trabalho e possibilidade de realização pessoal. Todo isso depende mais da sociedade que do indivíduo – até mesmo a felicidade esta relacionada ao fato de a pessoa se sentir útil para seu grupo social.

 

A importância dos primeiros anos de vida no desenvolvimento emocional é imensa e todos devem ter direito a uma família que forneça amor e figuras de identificação adequadas. Por vezes, há necessidade de famílias substitutas. A institucionalização de crianças e jovens é um caminho aberto para frustração, violência e carências afetivas, base de muitos transtornos emocionais.

 

Deve haver uma identificação precoce de problemas emocionais, aos quais todos estão sujeitos, como depressão, ameaça de surto psicótico e outros que podem levar à drogadição e ao alcoolismo. A sociedade e os sistemas de saúde devem fornecer meios adequados para que essas pessoas possam ser tratadas.

 

Médicos, professores e todos os profissionais que lidam com seres humanos devem ser capazes de identificar ideias suicidas. Deve-se averiguar e questionar, cuidadosamente, quando nos defrontamos com pessoas desesperançadas, desesperadas, que parecem não ter mais vontade de viver; o mesmo com pessoas que pareçam estranhas, sentindo-se ameaçadas e perseguidas sem motivo. Também merecem atenção especial indivíduos que se frustram com facilidade que agem impulsivamente quando as coisas não ocorrem conforme esperavam.

 

As tentativas de suicídio devem ser consideradas um pedido de ajuda e a pessoa deve ser encaminhada para avaliação por um profissional de saúde mental.

 

Existem associações de auxílio, como o Centro de Valorização da Vida (CVV), têm uma vasta experiência no atendimento de pessoas em sofrimento, tanto por telefone (188), pelo site https://www.cvv.org.br/ quanto pessoalmente.

 

É importante que a família e outras pessoas próximas ao suicídio saibam que ninguém é onipotente e onisciente, que nem sempre é possível prever o ato e tomar medidas adequadas.

 

Quem perde alguém por suicídio deve poder contar com um local para desabafar e pensar no que ocorreu, para que não fique sobrecarregado por lutos de difícil elaboração, os quais, por vezes, degeneram em acusações entre os membros da família e na desagregação familiar. Quando isso acontece, quando o suicídio contagia a todos a ponto de a convivência familiar ser destruído, é necessário recorrer a um profissional de saúde mental.

 

 

 

BIBLIOGRAFIA:

R. M. S Cassorla, Suicídio: fatores inconscientes e aspectos socioculturais: uma introdução. 2018. Editora Edgard Blücher Ltda.

Fundação Oswaldo Cruz, Saúde Mental e Atenção Psicossocial na Pandemia COVID-19: Suicídio na Pandemia COVID-19. 2020 Ministério da Saúde.

 

 

 

 

Texto escrito e desenvolvido por Marcus Vinicius de Moura Silva (Psicólogo Clínico - CRP: 06/128439). Atende na Clínica CRP Serviços de Psicologia.

 

bottom of page