SÍNDROME DA RECAÍDA
Todo alcoólatra já passou por isso – A recaída. Esta é apenas a consequência de todo um processo denominado de Síndrome da Recaída. A Síndrome é um processo que se inicia a partir de qualquer mudança na vida do dependente – é o momento em que ocorre um start. Qualquer mudança de uma situação programada acaba gerando desconforto em todos, mas a intensidade e a forma de encarar esta mudança parece ser maior e pior para o dependente. Isto acaba gerando um stress e consequentemente inicia o processo de negação da doença, ou seja, o dependente diz que está bem e que nada o irá afetar e que tem o controle da situação, entre outros pensamentos que acaba ignorando a ocorrência do desconforto sentido pela mudança. Por ignorar, acaba não lidando com o problema e os sintomas tendem a aumentar, iniciando uma perda de controle e de emoções. Neste momento, um ciclo se inicia... o ciclo de stress e sintomas, sintomas e stress. Isto não diminui e o dependente vai perdendo cada vez mais o controle de seu comportamento até novamente voltar ao uso das drogas. É neste ponto que não se pode chegar, aliás, é lá no início, no primeiro sentir sobre a mudança é que precisamos agir, para quebrar/interromper a Síndrome da Recaída.
A primeira etapa para evitar a recaída é identificar os sinais e avisos que alertam sobre esta possibilidade, assim, é fundamental que o dependente tenha um bom autoconhecimento para que possa frear essas etapas. As etapas aumentam de complexidade até chegar, finalmente, no uso da substância; entretanto, é necessário entender que a recaída não é o uso da substância em si, mas todo o processo que desencadeia o seu uso.
No primeiro estágio da recaída estão os avisos que será possível identificar quando o dependente começa a ter dificuldades em sua vida: dificuldade em resolver problemas simples, oscilação de humor, ansiedade, medo, dificuldade em se lembrar de coisas importantes, começa a não lidar bem com as situações de estresse, aparecem as dificuldades em dormir, surgem problemas de coordenação física e motora e há um sentimento de vergonha e culpa. Estes são alguns dos avisos de que o dependente está iniciando o processo de recaída. Ao haver o desiquilíbrio, independente do momento que seja, o objetivo é voltar a homeostase, ou seja, ao equilíbrio.... É tentar encontrar formas de que esses sinais não evoluam.
Um segundo estágio, quando não voltado ao equilíbrio, é quando o dependente volta a negar tudo... ignoram o que estão sentindo mesmo sabendo que há um desconforto interno ocasionado pela mudança da situação.
Uma terceira etapa ocorre quando o dependente tem comportamentos defensivos e diz que, mesmo diante da vontade, não irá beber ou fazer uso de drogas. Voltam a olhar para o comportamento do outro como forma de ignorar seus próprios sentimentos, aparecem comportamentos compulsivos, verificado através de ideias fixas e rígidas; há um aumento da ansiedade e o comportamento de falar mais e mais rápido é maior. O dependente começa a se isolar e a passar mais tempo sozinho. Dá-se início, então, a quarta fase que é o início de uma crise. O dependente começa a enfatizar os erros e pensamentos de injustiça começam a surgir, como a culpa fosse do outro, não podendo fazer nada para mudar. Começam a dormir demais e uma depressão leve pode surgir. Planos que tinha começam a falhar, pois não se comporta para a realização do mesmo, alimentando a ideia de que tudo dá errado.
A quinta fase surge como uma imobilização. Começa a acreditar que nada poderá ser mudado e que sua recuperação da dependência não está funcionando. Mais uma vez não faz nada para mudar a situação e quer que as coisas mudem como “em toque de mágica”. Na sexta fase o problema começa a atingir as pessoas próximas, atrapalhando as relações com amigos e familiares. Sentem-se confusos e ficam irritados por não conseguir resolver os problemas. A Raiva, a frustração, a irritabilidade, o stress e a ansiedade aumentam. A depressão que estava iniciando se intensifica nesta sétima fase começando a interferir nos hábitos alimentares, na falta de iniciativa, nos hábitos irregulares do sono; o dia fica irregular, dando a impressão que não tem tempo para fazer mais nada, quando na verdade há uma desordem, até afundar-se em um período de intensa depressão. Na fase seguinte o dependente não consegue mais controlar o seu comportamento, assim sendo, acaba por deixar de lado o tratamento da dependência, seja em participar das reuniões de NAA, AA, da terapia ou de outros grupos de ajuda, assim como do medicamento. Ele se fecha às pessoas que tentam lhe ajudar e acaba por desenvolver um comportamento de reação como se não tivesse acontecendo nada. A insatisfação com a vida é tamanha que começar a pensar que a única solução seria voltar ao uso do álcool e demais drogas... diante disso sentem que não podem fazer mais nada e que não há mais saída para o seu caso. Na nona fase surge novamente os pensamentos de beber ou usar as drogas socialmente, dizendo que terá o controle da situação (o que não é verdade); começam a desenvolver mentiras de forma a não ter mais o controle sobre a situação.
O sentir raiva de sua incapacidade de mudar a situação marca o início da 10ª fase, abandonando todo o tratamento e se isolando completamente, os pensamentos ficam sem controles e começa a pensar em sair, beber, em suicídio e até mesmo que está louco. E, por fim, para aliviar todo este sofrimento, o adicto volta ao que ele chama de uso controlado, mas que não controla e acaba, novamente, se envolvendo na busca contínua do álcool e/ou droga de sua preferência, sempre em dosagem cada vez maior, regredindo em toda conquista realizado até o momento.
Pode-se pensar... Nossa são tantas fases até o uso, porque ele não consegue interromper? Ele não consegue, primeiramente, porque ele não se considera doente e acredita que o uso social não lhe trará nenhuma consequência. Entretanto, a recaída tem um início bem antes do próprio consumo e para isto precisa de ajuda para se conhecer e identificar os disparadores que influenciarão seu trajeto para a recaída.
É importante destacar que essas fases não seguem, necessariamente, a ordem aqui apresentada, assim como podem começar em qualquer fase.... Tudo isto depende da história de consumo do adicto e sua preparação psicológica para enfrentar as situações que surgem e que terá de enfrentar em sua vida. Por isso é que o adicto precisa se conhecer e saber de seus limites, para poder dar sequência na sua vida como qualquer outra pessoa.
Carlos Renato Pizzol
Psicólogo (CRP 06/88502)